Quadril
 

 

IMPACTO FÊMORO-ACETABULAR

DOR NO QUADRIL E ARTROSCOPIA

PROTOCOLO FISIOTERÁPICO PARA PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROSCOPIA DO QUADRIL













IMPACTO FÊMORO-ACETABULAR
Autor: Liszt Palmeira de Oliveira.

Professor Adjunto e Chefe do Departamento de Especialidades Cirúrgicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Membro Titular do Comitê de Cirurgia do Quadril da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Coordenador do Setor de Quadril do Laboratório de Artroscopia do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

O impacto fêmoro-acetabular (IFA) é caracterizado por alteração óssea estrutural que pode ser sintomática, quando associada à lesão de partes moles desencadeada por esforços. Pode ser completamente assintomática, até o desenvolvimento da artrose secundária. As lesões de partes moles que produzem os sintomas dependem do tipo de impacto (no tipo cam ocorrem mais desinserções labrais e destacamento condral, enquanto que no tipo pincer ocorre esmagamento labral).


Figura 1. Impacto tipo cam: lesão condral acetabular.

A desinserção labral e o destacamento condral da periferia do acetábulo provocam dor na face anterior do quadril, principalmente durante a flexão, ao se levantar da posição sentada, ao entrar e sair de automóveis. A dor pode ser localizada na região glútea, devido à degeneração condral posterior (lesão em contra-golpe). Podem existir queixas mecânicas como episódios de ressalto, estalos, bloqueio e pinçamento. O teste de impacto é positivo (reprodução da dor aguda pela manobra de flexão, adução e rotação interna do quadril).


Figura 2. Teste de impacto.

Geralmente existe diminuição da rotação abdução durante o teste de Patrick (flexão, abdução e rotação externa) – o joelho não encosta na mesa de exame. O teste de impacto posterior, usado para avaliar a lesão condral acetabular posterior, é realizado com o paciente em decúbito dorsal, com ambos os membros inferiores posicionados além da extremidade da mesa de exames. O paciente estabiliza um dos quadris em flexão máxima. A outra extremidade é abruptamente posicionada em extensão e rotação externa, o que provoca dor glútea quando a cabeça femoral pressiona a cartilagem e o rebordo acetabular posterior, na presença de degeneração condral. Este teste pode ser positivo na lesão em contragolpe. O diagnóstico é confirmado pela radiografia simples das articulações coxo-femorais em AP e perfil (Dunn 90º), onde se observa preservação da fenda articular, projeção lateral da parede anterior do acetábulo (cross-sign), ossículos para-labrais, deformidade femoral em cabo de pistola, perda do off-set anterior do fêmur, na transição cérvico-cefálica.

A

B
C

Figura 3. A e B) Impacto tipo cam: ossículo paralabral (círculo amarelo); perda de off-set anterior (asterisco amarelo); off-set anterior normal (linha amarela tracejada); off-set posterior normal (linha amarela); C) Impacto tipo pincer: cross-over sign – reborda anterior lateralizada (linha tracejada) + reborda posterior medializada (linha contínua).

A lesão labral e condral pode ser detectada pela ressonância magnética, mas também pode passar desapercebida. A artro-ressonância magnética permite maior precisão diagnóstica. O uso de anestésico local intrarticular, no momento da artro-ressonância, permite a avaliação se há melhora dos sintomas, o que indica patologia intrarticular.


Figura 4. Artro-ressonância magnética do quadril mostrando aumento de sinal na base do labrum. Compatível com desinserção labral.

 

PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS



1) LESÃO LABRAL DE ORIGEM TRAUMÁTICA

A lesão labral de origem traumática é bem menos freqüente do que a causada pelo IFA. Geralmente acomete indivíduos que praticam atividades físicas de alta demanda (futebol, futevôlei, artes marciais, balé). Há relação dos sintomas dolorosos com a atividade física de maior intensidade e dificuldade para manter o nível de atividade física habitual. O (teste do rolamento), que, quando doloroso, é indicativo de afecção intrarticular. A flexão passiva do quadril associada à adução e rotação interna (teste de impacto) é dolorosa nas lesões labrais, mas pode ser desconfortável em indivíduos normais. O quadril pode ser testado em graus variados de flexão, e os sintomas geralmente aumentam com o aumento da flexão. A lesão labral também pode ser avaliada pelo teste de McCarthy, que é positivo quando existe dor ao se realizar a flexão passiva máxima dos quadris seguida da extensão do quadril que está sendo examinado, primeiro em rotação externa e depois em rotação interna. As radiografias são normais e o diagnóstico pode ser confirmado pela artro-ressonância (a RM pode ser negativa).


2) COXARTROSE

O paciente apresenta claudicação antálgica. A posição de sentar indica desconforto ou dificuldade. Existe algum grau de dificuldade para alcançar o pé com as mãos, na posição sentada. O arco de movimento é limitado, especialmente a rotação interna. O diagnóstico é confirmado pela radiografia simples que mostra a presença de diminuição do espaço articular, esclerose e cistos subcondrais e osteófitos marginais acetabulares e femorais.


3) SÍNDROME DO PIRIFORME

A rotação interna passiva forçada, com o quadril estendido (sinal de Freiberg), bem como a abdução da coxa resistida com o quadril dobrado (sinal de Pace), pode ser dolorosa na síndrome do piriforme. O teste do piriforme é realizado em decúbito lateral, com o quadril a ser examinado para cima, em flexão de 45 graus do quadril e de 90 graus do joelho. O examinador estabiliza a pelve e provoca rotação interna do quadril, estirando o músculo piriforme. Quando este teste provoca dor local, é indicativo de tendinite ou encurtamento do piriforme, enquanto que quando provoca dor ciática, é indicativo de síndrome do piriforme.


4) QUADRIL EM RESSALTO

Pacientes com quadril em ressalto geralmente relatam episódios de ressaltos audíveis e dolorosos quando o quadril é submetido a um determinado arco de movimento. O paciente pode reproduzir voluntariamente a sensação de estalo ou ressalto externo do quadril, que pode ser da banda iliotibial, com a fáscia lata crepitando quando passa sobre o grande trocanter, com movimentos ativos de rotação. O ressalto do tendão do iliopsoas pode ser reproduzido durante a flexão ativa do quadril ou pela flexão passiva com abdução, seguida da extensão com rotação interna (palpando‐se o ressalto na eminência iliopectínea).


5) BURSITE TROCANTÉRICA

riginalmente definida como "sensibilidade à palpação sobre o grande trocanter com o paciente em posição em decúbito lateral", a síndrome dolorosa do grande trocanter (GTPS), como entidade clínica, tem se expandido para incluir uma série de distúrbios do espaço peritrocantérico do quadril, incluindo bursite trocantérica, as rupturas dos glúteos médio e mínimo e o quadril em ressalto. Normalmente apresenta dor e sensibilidade reprodutível na região do trocanter maior, nádegas e face lateral da coxa. A GTPS é relativamente comum, afetando entre 10% e 25% da população geral. Devido à relativa escassez de informações disponíveis sobre o diagnóstico e manejo dos componentes da GTPS, a presença destas entidades patológicas podem ser subdiagnosticadas, levando a extensa investigação diagnóstica e atrasos no tratamento apropriado. Pode simular dor irradiada de, incluindo a dor miofascial, doença articular degenerativa e radiculopatia (L5). A maioria dos casos de GTPS responde bem a medidas conservadoras, como a fisioterapia, perda de peso, antinflamatórios não-hormonais e modificação de comportamento, proporcionando a resolução dos sintomas. Outras modalidades de tratamento incluem infiltrações do quadril com anestesia local e corticóide. Intervenções cirúrgicas mais invasivas têm sido relatadas.


REFERÊNCIAS

1) Beck M, Kalhor M, LeunigM,Ganz R: Hip morphology influences the pattern of damage to the acetabular cartilage: Femoroacetabular impingement as a cause of early osteoarthritis of the hip. J Bone Joint Surg Br 2005;87:1012‐1018.

2) Katz JN and Gomoll AH. Advances in arthroscopic surgery: indications and outcomes. Curr Opin Rheumatol 19: 106-10, 2007.

3) Klaue K, Durnin CW, Ganz R: The acetabular rim syndrome: A clinical presentation of dysplasia of the hip. J Bone Joint Surg Br 1991;73:423‐429.

4) Lage LA e Costa RC. Artroscopia do quadril: indicações e técnica. Rev Bras Ortop 30: 555-58, 1995.

5) McCarthy JC, Busconi B: The role of hip arthroscopy in the diagnosis and treatment of hip disease. Orthopedics 18:753–756, 1995.

6) MacDonald SJ, Garbuz D, Ganz R: Clinical evaluation of the symptomatic young adult hip. Semin Arthroplasty 1997;8:3‐9.

7) Philippon MJ, Kelly BT, Williams RJ. Hip arthroscopy: current indications, treatment options, and management issues. Am J Sports Med 31: 1020-37, 2003.

8) Philippon MJ. New frontiers in hip arthroscopy: the role of arthroscopic hip labral repair and capsulorrhaphy in the treatment of hip disorders. Instr Course Lect 55: 309-16, 2006.

9) Polesello CG, Honda EK, Ono NK, Guimarães RP, Oliveira LA, Mello MBD, Nakandakari EY. Artroscopia do quadril: experiência após seguimento médio de 33 meses. Rev Bras Ortop 41: 145-50, 2006.






DOR NO QUADRIL E ARTROSCOPIA

Autor: Liszt Palmeira de Oliveira.

Professor Adjunto e Chefe do Departamento de Especialidades Cirúrgicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Mestre em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Membro Titular do Comitê de Cirurgia do Quadril da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; Coordenador do Setor de Quadril do Laboratório de Artroscopia do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

ASPECTOS GERAIS SOBRE ARTROSCOPIA DO QUADRIL

O uso da técnica endoscópica para o tratamento de afecções articulares, de origem traumática ou degenerativa, pode já ser considerado familiar para muitos profissionais da área de saúde. Diversas técnicas endoscópicas são rotineiramente utilizadas no joelho, tornozelo, ombro, cotovelo e punho. Entretanto, o uso do endoscópio para examinar e tratar certas doenças do quadril é um novo conceito para muitos.

Embora considerada uma idéia moderna, a artroscopia do quadril foi realizada pela primeira vez em 1931 por Burman, em cadáveres. A artroscopia do quadril permaneceu no esquecimento até os anos 80, talvez pelas dificuldades técnicas encontradas. Nessa época, James Glick e Thomas Sampson desenvolveram instrumentais que permitiam melhor acesso à articulação do quadril e propuseram o posicionamento lateral para a realização do procedimento artroscópico.

Vários fatores permitiram a ampliação do leque de indicações da artroscopia do quadril, como o avanço dos métodos de diagnóstico, à melhora do desenho do instrumental e o aumento de experiência dos cirurgiões com o método artroscópico.

As indicações mais freqüentes para artroscopia do quadril incluem presença de lesão do labrum acetabular sintomática, impacto fêmoro-acetabular, frouxidão e instabilidade capsular, lesão condral, osteocondrites, lesões do ligamento redondo, ressalto intra e extra-articular, bursite do iliopsoas e corpos livres intra-articulares. Indicações menos comuns incluem tratamento da osteonecrose da cabeça femoral, anormalidades da sinóvia, infecção e debridamento intraarticular pós-traumático. Em casos raros, a artroscopia do quadril pode ser usada para atenuar os sintomas da osteoartrite moderada associada a sintomas mecânicos.

São bem conhecidas as vantagens dos procedimentos artroscópicos em relação à cirurgia aberta. No quadril, entre essas, a menor invasão, a não necessidade de sua luxação, o menor risco de lesão à vascularização da cabeça femoral, a possibilidade de alta hospitalar e reabilitação precoces, além da visão direta das lesões cartilaginosas do acetábulo.

Publicações recentes têm mostrado bons resultados obtidos pelo tratamento artroscópico do quadril, especialmente nos pacientes portadores de lesões do labrum acetabular, corpos livres intra-articulares e impacto fêmoro-acetabular. A artroscopia também é útil em pacientes sem diagnóstico, podendo ser utilizada como método de diagnóstico primário.


DIAGNÓSTICO DA DOR NO QUADRIL

Recentes avanços no tratamento cirúrgico das afecções do quadril trazem a necessidade de técnicas semiológicas mais apuradas. Para definir com precisão a localização e origem específica dos sintomas são necessárias informações obtidas pela história e pelo exame físico.

O grau de limitação funcional e as atividades que exacerbam os sintomas devem ser definidos. Deve ser pesquisado o envolvimento do paciente em atividades físicas desportivas e sua relação com o agravamento da dor. O examinador deve questionar sobre episódios de ressalto, estalos, bloqueio e pinçamento que possam sugerir alterações de partes moles ou intrarticulares. Na entrada do paciente na sala de exames podemos observar se o padrão da marcha indica se há alteração funcional por insuficiência muscular, restrição da mobilidade ou claudicação antálgica. A posição em que o paciente se senta pode indicar desconforto ou dificuldade. A facilidade com a qual cruza as pernas e alcança o pé com as mãos indica boa função do quadril, enquanto que a dificuldade ou impossibilidade podem ser indicativas de alteração funcional grave do quadril.

O exame físico básico é composto pela avaliação do arco de movimento e do exame neurológico (motor e sensitivo). Os testes especiais são usados para confirmar ou descartar doenças específicas.

O arco de movimento dos quadris deve ser avaliado inicialmente com o paciente em decúbito dorsal e com os membros inferiores esticados. A bacia deve ser nivelada e estabilizada durante o exame. A rotação interna e externa é avaliada com o membro inferior esticado (teste do rolamento). A adução é testada levando passivamente o membro testado sobre o contralateral. A abdução é testada afastando o membro examinado da linha média do corpo. A flexão passiva do quadril é realizada inicialmente ainda com o joelho esticado, até o limite da elasticidade da musculatura posterior, seguida da avaliação da flexão passiva máxima com o joelho dobrado. A seguir, com o quadril e o joelho dobrados a 90 graus, é testada a rotação interna e externa. Em decúbito ventral é examinada a extensão ativa com o paciente elevando a coxa da mesa do exame com o joelho levemente dobrado. A extensão passiva é feita com o joelho esticado.

O exame neurológico do quadril se compõe de duas partes: testes motores e testes sensitivos. Testes Motores: os músculos são testados por grupos. Os flexores (inervados por L1, L2 e L3) são testados com o paciente sentado, com as pernas pendentes para fora da mesa, solicitando‐se que o mesmo flexione o quadril enquanto o examinador exerce resistência no terço distal da coxa. Os adutores (L2, L3 e L4) são testados com o paciente em decúbito dorsal, estando os membros abduzidos e com o examinador impondo resistência na face interna dos tornozelos enquanto o paciente é solicitado a realizar o movimento de adução. Os abdutores (L5) são testados com o paciente em decúbito dorsal, enquanto o examinador coloca suas mãos sob as faces laterais dos tornozelos, impondo resistência e solicitando ao paciente que abduza os membros; pode também ser testado com o paciente em decúbito lateral, quando então o examinador impõe resistência na face lateral da coxa. Para se testar os extensores (S1) o paciente deve estar em decúbito ventral e com o joelho fletido, tentando estender o quadril enquanto o examinador oferece resistência na face posterior da coxa. Testes Sensitivos: as raízes que suprem sensitivamente a pele da região do quadril e coxa são: T12 (área do ligamento inguinal), L1 (terço superior da coxa), L2 (terço médio da coxa), L3 (terço inferior da coxa), todos estes na face anterior do membro. Na face posterior do membro, as raízes de S1 e S2 suprem a sensibilidade de extensa área que vai desde a prega glútea até a fossa poplítea.

PRINCIPAIS INDICAÇÕES ATUAIS DE ARTROSCOPIA DO QUADRIL


1) IMPACTO FÊMORO-ACETABULAR

O impacto fêmoro-acetabular (IFA) é caracterizado por alteração óssea estrutural que pode ser sintomática, quando associada à lesão de partes moles agudizada por esforços. Pode ser completamente assintomática, até o desenvolvimento de artrose. As lesões de partes moles que produzem os sintomas dependem do tipo de impacto (no tipo cam ocorrem mais desinserções labrais e destacamento condral, enquanto que no tipo pincer ocorre esmagamento labral). A desinserção labral e o destacamento condral da periferia do acetábulo provocam dor na face anterior do quadril, principalmente durante a flexão, ao se levantar da posição sentada, ao entrar e sair de automóveis. A dor pode ser localizada na região glútea, devido à degeneração condral posterior (lesão em contra-golpe). Podem existir queixas mecânicas como episódios de ressalto, estalos, bloqueio e pinçamento. O teste de impacto é positivo (reprodução da dor aguda pela manobra de flexão, adução e rotação interna do quadril). Geralmente existe diminuição da rotação abdução durante o teste de Patrick (flexão, abdução e rotação externa) – o joelho não encosta na mesa de exame. O teste de impacto posterior, usado para avaliar a lesão condral acetabular posterior, é realizado com o paciente em decúbito dorsal, com ambos os membros inferiores posicionados além da extremidade da mesa de exames. O paciente estabiliza um dos quadris em flexão máxima. A outra extremidade é abruptamente posicionada em extensão e rotação externa, o que provoca dor glútea quando a cabeça femoral pressiona a cartilagem e o rebordo acetabular posterior, na presença de degeneração condral. Este teste pode ser positivo na lesão em contragolpe. O diagnóstico é confirmado pela radiografia simples das articulações coxo-femorais em AP e perfil (Dunn 90º), onde se observa preservação da fenda articular, projeção lateral da parede anterior do acetábulo (cross-sign), ossículos para-labrais, deformidade femoral em cabo de pistola, perda do off-set anterior do fêmur, na transição cérvico-cefálica. A lesão labral e condral pode ser detectada pela ressonância magnética, mas também pode passar desapercebida. A artro-ressonância magnética permite maior precisão diagnóstica. O uso de anestésico local intrarticular, no momento da artro-ressonância, permite a avaliação se há melhora dos sintomas, o que indica patologia intrarticular.


2) LESÃO LABRAL DE ORIGEM TRAUMÁTICA

A lesão labral de origem traumática é bem menos freqüente do que a causada pelo IFA. Geralmente acomete indivíduos que praticam atividades físicas de alta demanda (futebol, futevôlei, artes marciais, balé). Há relação dos sintomas dolorosos com a atividade física de maior intensidade e dificuldade para manter o nível de atividade física habitual. O (teste do rolamento), que, quando doloroso, é indicativo de afecção intrarticular. A flexão passiva do quadril associada à adução e rotação interna (teste de impacto) é dolorosa nas lesões labrais, mas pode ser desconfortável em indivíduos normais. O quadril pode ser testado em graus variados de flexão, e os sintomas geralmente aumentam com o aumento da flexão. A lesão labral também pode ser avaliada pelo teste de McCarthy, que é positivo quando existe dor ao se realizar a flexão passiva máxima dos quadris seguida da extensão do quadril que está sendo examinado, primeiro em rotação externa e depois em rotação interna. As radiografias são normais e o diagnóstico pode ser confirmado pela artro-ressonância (a RM pode ser negativa).

PRINCIPAIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS


1) COXARTROSE

O paciente apresenta claudicação antálgica. A posição de sentar indica desconforto ou dificuldade. Existe algum grau de dificuldade para alcançar o pé com as mãos, na posição sentada. O arco de movimento é limitado, especialmente a rotação interna. O diagnóstico é confirmado pela radiografia simples que mostra a presença de diminuição do espaço articular, esclerose e cistos subcondrais e osteófitos marginais acetabulares e femorais.


2) SÍNDROME DO PIRIFORME

A rotação interna passiva forçada, com o quadril estendido (sinal de Freiberg), bem como a abdução da coxa resistida com o quadril dobrado (sinal de Pace), pode ser dolorosa na síndrome do piriforme. O teste do piriforme é realizado em decúbito lateral, com o quadril a ser examinado para cima, em flexão de 45 graus do quadril e de 90 graus do joelho. O examinador estabiliza a pelve e provoca rotação interna do quadril, estirando o músculo piriforme. Quando este teste provoca dor local, é indicativo de tendinite ou encurtamento do piriforme, enquanto que quando provoca dor ciática, é indicativo de síndrome do piriforme.


3) QUADRIL EM RESSALTO

Pacientes com quadril em ressalto geralmente relatam episódios de ressaltos audíveis e dolorosos quando o quadril é submetido a um determinado arco de movimento. O paciente pode reproduzir voluntariamente a sensação de estalo ou ressalto externo do quadril, que pode ser da banda iliotibial, com a fáscia lata crepitando quando passa sobre o grande trocanter, com movimentos ativos de rotação. O ressalto do tendão do iliopsoas pode ser reproduzido durante a flexão ativa do quadril ou pela flexão passiva com abdução, seguida da extensão com rotação interna (palpando‐se o ressalto na eminência iliopectínea).


4) BURSITE TROCANTÉRICA

Originalmente definida como "sensibilidade à palpação sobre o grande trocanter com o paciente em posição em decúbito lateral", a síndrome dolorosa do grande trocanter (GTPS), como entidade clínica, tem se expandido para incluir uma série de distúrbios do espaço peritrocantérico do quadril, incluindo bursite trocantérica, as rupturas dos glúteos médio e mínimo e o quadril em ressalto. Normalmente apresenta dor e sensibilidade reprodutível na região do trocanter maior, nádegas e face lateral da coxa. A GTPS é relativamente comum, afetando entre 10% e 25% da população geral. Devido à relativa escassez de informações disponíveis sobre o diagnóstico e manejo dos componentes da GTPS, a presença destas entidades patológicas podem ser subdiagnosticadas, levando a extensa investigação diagnóstica e atrasos no tratamento apropriado. Pode simular dor irradiada de, incluindo a dor miofascial, doença articular degenerativa e radiculopatia (L5). A maioria dos casos de GTPS responde bem a medidas conservadoras, como a fisioterapia, perda de peso, antinflamatórios não-hormonais e modificação de comportamento, proporcionando a resolução dos sintomas. Outras modalidades de tratamento incluem infiltrações do quadril com anestesia local e corticóide. Intervenções cirúrgicas mais invasivas têm sido relatadas.

REFERÊNCIAS

1) Beck M, Kalhor M, LeunigM,Ganz R: Hip morphology influences the pattern of damage to the acetabular cartilage: Femoroacetabular impingement as a cause of early osteoarthritis of the hip. J Bone Joint Surg Br 2005;87:1012‐1018.

2) Katz JN and Gomoll AH. Advances in arthroscopic surgery: indications and outcomes. Curr Opin Rheumatol 19: 106-10, 2007.

3) Klaue K, Durnin CW, Ganz R: The acetabular rim syndrome: A clinical presentation of dysplasia of the hip. J Bone Joint Surg Br 1991;73:423‐429.

4) Lage LA e Costa RC. Artroscopia do quadril: indicações e técnica. Rev Bras Ortop 30: 555-58, 1995.

5) McCarthy JC, Busconi B: The role of hip arthroscopy in the diagnosis and treatment of hip disease. Orthopedics 18:753–756, 1995.

6) MacDonald SJ, Garbuz D, Ganz R: Clinical evaluation of the symptomatic young adult hip. Semin Arthroplasty 1997;8:3‐9.

7) Philippon MJ, Kelly BT, Williams RJ. Hip arthroscopy: current indications, treatment options, and management issues. Am J Sports Med 31: 1020-37, 2003.

8) Philippon MJ. New frontiers in hip arthroscopy: the role of arthroscopic hip labral repair and capsulorrhaphy in the treatment of hip disorders. Instr Course Lect 55: 309-16, 2006.

9) Polesello CG, Honda EK, Ono NK, Guimarães RP, Oliveira LA, Mello MBD, Nakandakari EY. Artroscopia do quadril: experiência após seguimento médio de 33 meses. Rev Bras Ortop 41: 145-50, 2006.






PROTOCOLO FISIOTERÁPICO PARA PÓS-OPERATÓRIO DE ARTROSCOPIA DO QUADRIL


Autores:
- Liszt Palmeira de Oliveira – Chefe do Grupo de Cirurgia do Quadril HUPE – UERJ; Professor Adjunto FCM – UERJ.
- Gerson Lamenza – Chefe do Setor de Fisioterapia do Serviço de Ortopedia HUPE – UERJ.
- Letícia Del Castilho – Pós-graduanda (Mestrado) – FCM – UERJ.


A recuperação pós-operatória é uma etapa fundamental no tratamento dos pacientes ortopédicos. Nosso objetivo é apresentar nossos protocolos de acompanhamento fisioterápico após a artroscopia do quadril. A artroscopia do quadril não é uma forma de tratamento, mas sim uma técnica que pode ser usada para realização de um determinado tratamento.

No quadril, os tratamentos que mais freqüentemente são feitos por técnica artroscópica são o tratamento do impacto fêmoro-acetabular, incluindo o tratamento das lesões labrais e da cartilagem causadas pelo impacto e o tratamento de lesões isoladas do labrum acetabular.

Quando o tratamento é feito por artroscopia, a agressão cirúrgica é menor do que quando o mesmo tratamento é feito por via aberta, o que favorece a reabilitação do paciente. Mesmo assim, alguns cuidados devem ser tomados no sentido de proteger o tratamento realizado e permitir a recuperação com a maior rapidez possível.

A seguir são enumerados os protocolos básicos de fisioterapia, que devem servir somente como linhas gerais, sendo individualizadas de acordo com o paciente, a critério do médico assistente.



1. Tratamento do impacto (osteoplastia acetabular e femoral):

Objetivo: evitar compressão no quadril e restaurar o arco completo de movimento.

Fase inicial: 1-7 dias
  • Marcha com muletas e apoio parcial
  • Evitar flexão além de 90° por 10 dias e abdução além de 25° por 3 semanas
  • A partir do 1º dia crioterapia e exercícios de “bomba plantar”
  • A partir do 2º dia podem ser realizados exercícios isométricos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal e bicicleta estacionária sem resistência
Fase intermediária: 2-6 semanas
  • Marcha com muletas e apoio parcial por 4-6 semanas
  • Arco completo de movimento após 2 semanas
  • Alongamento do piriforme e íliopsoas a partir da 2ª semana suavemente
  • Restauração da flexão e rotação interna
  • Exercícios isotônicos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal, com aumento gradual da resistência

Fase avançada: 6-12 semanas
  • Continuar com os alongamentos
  • Continuar com os exercícios de resistência progressiva
  • Exercícios proprioceptivos
  • Progressão gradual de atividades funcionais


2. Tratamento de lesão labral por ressecção ou desbridamento: Objetivo: diminuir inflamação articular, dor e ganhar arco de movimento. Fase inicial: 1-7 dias
  • Marcha com muletas e apoio parcial
  • Evitar flexão além de 90° por 10 dias, abdução além de 25° e rotação externa além de 25° por 3 semanas
  • Realizar rotação interna suavemente
  • A partir do 1º dia crioterapia e exercícios de “bomba plantar”
  • A partir do 2º dia podem ser realizados exercícios isométricos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal e bicicleta estacionária sem resistência

Fase intermediária: 2-4 semanas
  • Marcha com muletas e apoio parcial de peso por 1 a 2 semanas
  • Arco completo de movimento após 2 semanas
  • Alongamento do piriforme e íliopsoas a partir da 2ª semana suavemente
  • Restauração da flexão e rotação interna
  • Exercícios isotônicos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal, com aumento gradual da resistência
Fase avançada: 4-6 semanas
  • Continuar com os alongamentos
  • Continuar com os exercícios de resistência progressiva
  • Exercícios proprioceptivos
  • Progressão gradual de atividades funcionais

 

3. Sutura ou re-inserção do Labrum:

Objetivo: diminuir inflamação articular, dor e ganhar arco de movimento.


Fase inicial: 1-7 dias
  • Marcha com muletas e apoio parcial
  • Evitar flexão além de 90° por 10 dias, abdução além de 25° e rotação externa além de 25° por 3 semanas
  • A partir do 1º dia crioterapia e exercícios de “bomba plantar”
  • Realizar rotação interna suavemente
  • A partir do 2º dia podem ser realizados exercícios isométricos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal e bicicleta estacionária sem resistência
Fase intermediária: 2-4 semanas
  • Marcha com muletas e apoio parcial de peso por 2 a 4 semanas
  • Arco completo de movimento após 2 semanas
  • Alongamento do piriforme e íliopsoas a partir da 2ª semana suavemente
  • Restauração da flexão e rotação interna
  • Exercícios isotônicos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal, com aumento gradual da resistência

Fase avançada: 4-6 semanas
  • Continuar com os alongamentos
  • Continuar com os exercícios de resistência progressiva
  • Exercícios proprioceptivos
  • Progressão gradual de atividades funcionais

 

4. Tratamento de lesões condrais por técnica de microfratura do osso subcondral:

Objetivo: é evitar resposta inflamatória e proteger a formação da fibrocartilagem.

Fase inicial: 1-7 dias
  • Marcha com muletas sem carga
  • Evitar flexão além de 90° por 10 dias e abdução além de 25° por 3 semanas
  • Realizar rotação interna suavemente
  • A partir do 1º dia crioterapia e exercícios de “bomba plantar”
  • A partir do 2º dia podem ser realizados exercícios isométricos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal e bicicleta estacionária sem resistência
Fase intermediária: 2-6 semanas
  • Marcha com muletas sem carga por 6 a 8 semanas
  • Arco completo de movimento após 2 semanas
  • Alongamento do piriforme e íliopsoas a partir da 2ª semana suavemente
  • Restauração da flexão e rotação interna
  • Exercícios isotônicos para quadríceps, glúteos, ísquios, adutores, abdutores, transverso abdominal, com aumento gradual da resistência
Fase avançada: 6-12 semanas
  • Marcha com muletas sem carga por 6 a 8 semanas
  • Continuar com os alongamentos
  • Continuar com os exercícios de resistência progressiva
  • Exercícios proprioceptivos
  • Progressão gradual de atividades funcionais